ESTIAGEM PREJUDICA DESENVOLVIMENTO DAS LAVOURAS DE VERÃO NO RS

A redução nas precipitações no Rio Grande do Sul configura um cenário de estiagem, especialmente no Centro-Oeste do Estado, onde os danos nas lavouras são mais acentuados. De acordo com o Informativo Conjuntural, divulgado pela Emater/RS-Ascar nesta quinta-feira (23/01), as áreas mais afetadas são aquelas semeadas no início de novembro, que apresentam floração abaixo do esperado, com queda de folhas e flores, resultando em perdas significativas de estruturas reprodutivas e potencial decréscimo na produtividade. Nas lavouras de soja implantadas em dezembro, a ausência de fechamento das entrelinhas intensifica a perda de umidade do solo, devido à maior exposição ao vento e à radiação solar, além de favorecer a reinfestação de plantas daninhas.

Em regiões mais críticas, em razão do longo período sem precipitações ou da presença de solos rasos e arenosos, observa-se mortalidade de plantas jovens por enraizamento inadequado, folhas comprometidas e desenvolvimento vegetativo abaixo do esperado. No entanto, a condição de estiagem não é uniforme no Estado. Nas lavouras mais a Leste do território estadual, o estresse hídrico diminuiu de forma significativa, aproximando-se de condições climáticas normais. Especialmente nas regiões mais elevadas do Planalto e nos Campos de Cima da Serra, os volumes de chuva mais regulares têm contribuído para manter o potencial produtivo das lavouras mais próximo do projetado.

O plantio da soja apresentou avanço limitado, ocorrendo em áreas onde os índices pluviométricos proporcionaram um aumento significativo da umidade do solo. No entanto, ainda não foi possível atingir a totalidade da área projetada para a safra, cujo plantio é de 99%, estando, no momento, com 51% das lavouras em germinação e desenvolvimento vegetativo, 34% em floração e 15% em enchimento de grãos.

Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Santa Rosa, 59% das lavouras de soja estão em estágio vegetativo, 35% em floração e 5% em enchimento de grãos. O estresse hídrico é evidente, manifestando-se pelo murchamento intenso das folhas ao amanhecer. Em áreas de solos rasos ou com pedras, observa-se uma coloração parda nas folhas, indicando perda da capacidade fotossintética e possível senescência, caso as condições de precipitação não se revertam. A ocorrência de chuvas mais volumosas, embora mal distribuídas no período, possibilitaram a retomada da semeadura da soja em algumas áreas.

Em função da estiagem, os sistemas de irrigação estão em operação regular, proporcionando o adequado desenvolvimento das lavouras. Contudo, em razão do aumento da umidade, será necessário monitorar a presença de ferrugem. Uma vez concluída a colheita do milho nas lavouras irrigadas, os produtores estão semeando soja nessas áreas, que já estão em fase de emergência das plantas. As áreas de resteva de milho em sequeiro, por sua vez, aguardam chuvas para a semeadura.

Na região de Soledade, o estresse hídrico nas lavouras de soja aumentou. Durante as horas mais quentes, as plantas apresentam folhas murchas, mas com recuperação à noite e pela manhã. Esse mecanismo fisiológico visa reduzir a perda de água. Contudo, em áreas onde há limitações físicas de solo, as perdas são irreversíveis e podem aumentar, se não chover. O momento é de definição de produtividade, pois 45% das lavouras estão em florescimento e 10% em enchimento de grãos, o que torna o restabelecimento da umidade extremamente necessário.

 

Milho - A colheita avançou de forma significativa, e atinge 28% da área projetada. As lavouras em colheita, semeadas entre agosto e outubro, em sua maioria, não enfrentaram restrições hídricas. Os resultados iniciais são favoráveis, superando, em muitos casos, o potencial produtivo estimado. Mesmo nas lavouras em florescimento, afetadas pelo período seco de novembro, as perdas observadas foram inferiores às quebras inicialmente previstas.

Na região Centro-Oeste do Estado, nas áreas cultivadas mais tardiamente, observam-se os impactos da estiagem, especialmente nas lavouras em floração e enchimento de grãos. Projeta-se uma redução na produtividade e, em alguns casos, as lavouras estão sendo redirecionadas para forrageamento direto ou produção de silagem. Na Região Leste, a frequência de chuvas mantém-se próxima à normalidade, não afetando de forma significativa as lavouras em fases produtivas.

 

Milho Silagem - As atividades de ensilagem prosseguiram durante o período, apesar das chuvas ocorridas em algumas regiões, que beneficiaram as lavouras em estágios reprodutivos. A produtividade das lavouras colhidas está elevada, uma vez que, na maioria dos cultivos, houve adequada disponibilidade hídrica ao longo do ciclo. Contudo, as lavouras em fase reprodutiva nas regiões Centro e Oeste do Estado estão sendo impactadas pela estiagem. Algumas lavouras inviabilizadas para a produção de grãos estão sendo direcionadas para ensilagem, mas o produto resultante deverá apresentar qualidade inferior, em comparação ao das lavouras previamente colhidas.

 

Arroz - Em 15/01, iniciou a colheita de arroz no Estado pelos municípios de Itaqui e Maçambará. As áreas foram semeadas entre 01 e 10/09, e alcançaram a maturação, sem apresentar impactos significativos da estiagem, que afeta a região desde meados de dezembro. A produtividade obtida é considerada satisfatória e atinge 8.750 kg/ha. As condições climáticas, de maneira geral, continuaram favoráveis para as demais lavouras, embora haja algum risco de estresse devido às temperaturas próximas aos 40°C em municípios da Fronteira Oeste. Esse cenário pode ocasionar esterilidade de espiguetas nas lavouras em fase de floração e pré-floração.

A excelente disponibilidade de radiação solar e a baixa umidade relativa do ar têm influenciado de forma positiva a sanidade da cultura. No entanto, ainda há alto consumo de água para irrigação, o que mantém os produtores atentos aos níveis dos rios e barragens. Segundo o Instituto Rio Grandense de Arroz (Irga), a área implantada é de 927.885 hectares de arroz irrigado. A Emater/RS-Ascar estima produtividade inicial de 8.478 kg/ha.

 

Feijão 1ª safra - A colheita da primeira safra evoluiu e aproxima-se da finalização nas regiões Centro e Planalto Médio. As lavouras apresentam produtividades variáveis, refletindo o nível tecnológico empregado e as condições climáticas enfrentadas. Os grãos colhidos apresentam peso e qualidade considerados adequados, garantindo boa aceitação no mercado e correspondendo às expectativas para a safra. Os rendimentos alcançados estão estimados em 1.600 kg/ha.

 

OLERÍCOLAS E FRUTÍCOLAS

 

Abobrinha - Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Lajeado, em Feliz, a cultura da abobrinha cresceu em termos de área de cultivo nos últimos anos; estima-se que 90% sejam plantados em sistema de estufim – túnel baixo. Por meio dessa tecnologia, os produtores conseguem manter a produção praticamente o ano todo, inclusive no inverno. É momento de safra de qualidade. A variedade mais plantada no município é a Italiana, mas também há cultivos da Tronco. O quilo está sendo comercializado entre R$ 1,25 e R$ 1,75.

 

Milho-verde - Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, a colheita das primeiras lavouras implantadas em setembro rendeu excelentes resultados. Porém, nas lavouras implantadas em outubro, as perdas têm sido significativas em razão da estiagem, que atingiu a cultura durante a fase de floração. Na região de Santa Rosa, as lavouras de milho-verde e milho-doce estão em plena colheita. A espiga de milho-doce é vendida por R$ 1,50 e de milho-verde a R$ 0,80.

 

Figo - Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, a expectativa para a Safra 2024/2025 é de colheita um pouco menor em relação aos valores históricos, em razão dos danos em alguns figueirais, que foram alagados durante a enchente de abril/maio de 2024. A área de cultivo se mantém estável, e os produtores estão fazendo a renovação habitual dos pomares. O ciclo da cultura segue sem antecipações nem atrasos nos fluxos de colheita. No Vale do Rio Caí, a colheita iniciou em meados de dezembro e está em andamento. Em Caxias do Sul, Nova Petrópolis e Gramado, a colheita se iniciou nas primeiras áreas em meados de janeiro. No geral, a qualidade dos frutos colhidos está satisfatória. Os preços recebidos pelos produtores são, pela fruta madura para grandes indústrias, aproximadamente R$ 3,50/kg; e fruta madura para consumo de mesa, R$ 9,00 a R$ 15,00/kg. Alguns agricultores estão comercializando frutas a granel em pequenas quantidades, direto ao consumidor, de R$ 6,00 a R$ 9,00/kg.

 

 

Foto de Felipe Bieger, extensionista da Emater/RS-Ascar em Campina das Missões

Assessoria de Imprensa da Emater/RS-Ascar

Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues

 

 

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